segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mamãe e suas filhas: Lombo caramelizado

Como já me expressei aqui, eu possuo uma relação meio paradoxal com a fé em entidades extraterrenas. Nasci numa família católica, filha de um pai ateu e comunista. Fui uma jovem católica praticante, que com a maturidade perdeu esta fé. Porém, adoro entrar numa igreja católica, admirar as suas edificações e as suas artes, muitas vezes seculares e deslumbrantes. Creio que me acorrentei  nas "coisas" vividas na minha infância, no meu amor pelas artes e na história dos humanos.

Trocando em miúdos, em todas as minhas viagens e em qualquer cidade que eu visite, eu não posso ver uma igreja. Eu paro, entro nela, faço um reconhecimento, saudo todos os santos e santas, sento num banco perto do altar, penso na vida e me ponho a chorar. É assim tanto nas igrejas que eu sempre visito em BH, Ouro Preto, Tiradentes, Diamantina, Fidalgo, Sabará, dentre outras; como quando me deparei com o céu estrelado do teto da igreja e com o túmulo de São Francisco, em Assis, quando me choquei com os vitrais de Saint Chapelle, quando entrei na igreja de Congonhas para pagar um promessa feita por meu sogro, quando fui à igreja do Menino Jesus de Praga buscar uma benção com um padre amigo do meu médico. Sinto SEMPRE muita emoção, fico engasgada e me ponho a chorar...

Meu marido sempre brinca comigo dizendo "e você ainda fala que não acredita em Deus!" E eu respondo "humana que sou, tenho lá as minhas contradições".

Apenas uma vez eu fugi deste comportamento reincidente. Foi quando visitei a igreja de São Pedro, no Vaticano. Fui até lá, sobretudo, para apreciar as obras do extraordinário Michellangelo. Ao entrar na tal igreja me senti tão abafada por sua grandiosidade, que tive claustrofobia e sai correndo para fora dela buscando tomar ar e não desmaiar. Confesso que senti alí dentro uma certa revolta, ao verificar as externalidades chocantes das imensas riquezas de uma igreja, que sempre me ensinou ser a protetora dos pobres e oprimidos. Prometi a mim mesma que nunca mais entraria ali, mesmo tendo deixado para trás as visões da Capela Sistina e da Pieta. Nunca me arrependi dessa decisão... até ontem.

Ao terminar a minha leitura ávida de um romance, presenteado por este meu marido, desejei rever Roma para, além dela, visitar, admirar e chorar frente a Pieta.


Olha isto!!!! como pode alguém esculpir uma cena tão tocante, em um mármore tão duro?

Por favor, cuide da Mamãe possui um título estranho e uma capa infantil, como os livros de auto ajuda. Mas tal publicação não é nada disso. Trata-se de um romance que narra uma bela história de uma família que perde a sua "Mamãe" numa estação de metrô em Seul. Depois de ler, conclui que ele não poderia ter outro título e nem outra capa.

Obviamente que em época de Dia das Mães, considerando a minha condição de mãe, com muitas irmãs, uma filha  e um neto ausentes e num cotidiano de luta contra a minha dor de ter a própria mãe gravemente doente, ele causou muito impacto. Mas recomendo a sua leitura a todas as mães, pais, filhos e filhas. Somos todos nós!!!!

Foi um fim de semana estranho... Eu lia vorazmente o romance e chorava demais, mas sentia paz e conforto, como há muito tempo não sentia. Fiquei ligada desde o início do livro, em que ela cita Franz Liszt: "Ame, enquanto puder amar"... Putz! Mais ainda quando ela própria diz: "Mães e filhas ou se conhecem muito bem ou são como estranhas". É isso! E eu acrescento, nas duas situações, existe um imenso amor.

Vai daí que decidi, ao final desta história, sem choro nem vela, preparar um almoço para alegrar e adocicar a minha vida e a da minha família: Lombo com caramelo.

Eu temperei 2 lombinhos (1k), cortados em duas metades, com sal, pimenta do reino do moinho, uma dose de cachaça, raspas e o caldo de um limão, gengibre em pó e alho amassado. Selei-os em uma wok, com azeite bem quente. Adicionei picadinhos, um dedo de gengibre fresco uma pimenta dedo de moça, sem sementes e a vinha d'alhos do tempero. Ao ferver o preparo, juntei um caramelo preparado com duas xícaras de chá de açúcar, aquecido em fogo alto (15 minutos) até ficar do tipo açúcar queimado, mas sem amargar. Deixei caramelizar os pedaços de lombo, virando a carne de um lado e de outros. Juntei 4 cebolas médias fatiadas em rodelas. Temperei com dois tabletes de caldo de carne, uma colher de sopa de óleo de gergelim e outras duas de molho de soja e deixei cozinhar por uns 30 minutos.

Acertei o sal e a pimenta, salpiquei grãos de gergelim e servi com arroz e bifun crú (macarrão de arroz), frito em óleo de canola quente, como se fosse uma batata palha, tomando cuidado para ele, sensível que é, não se queimar e amargar o meu almoço. Vejam só o meu prato!



Só poderia oferecer este post, com muito amor, à minha Mamãe e ás minhas irmãs...a minha família original.

2 comentários:

  1. Acho que a gente tem isto em comum.
    Uma capacidade interminável de arranjar gancho pra falar nas coisas que a gente quer.
    Juro que pensei será que não vem receita? lá no comecinho.

    Beijo

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  2. A vida Paulinho tem sido dura para nós. Por isto a necessidade de elaborar e dar sentido a ela. Ainda bem que temos as nossas palavras e esta capacidade interminável em arrumar ganchos, como você bem diz, para dar sentido e alegria a ela. bjs e saúde.

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