domingo, 27 de novembro de 2011

Reedição de Brasileiros e Brasileiras: Hoje é dia de feijoada completa

Como não consegui acessar este post abaixo no próprio Blog, resolvi reedita-lo. Coisa doida isto! procuro o talzinho para me inspirar e não encontro. Mas taí ele de novo............

É claro que numa família,como a minha, de comilões, beberrões e , por consequencia, boêmios, tinha de ter um especialista em feijoada. Tio Célio, que vinha de Goiania, vez por outra, fazia a tal feijoada ( muito aclamada e das melhores) que ele chamava de Creme de Feijão Gratinado, com Arroz Areias do Deserto...

Era uma produção de mais de 24h, até ser servida. Ele começava pelo mercado central, pela manhã, onde escolhia as carnes, o feijão e a farinha. Ao final do dia, ele iniciava a preparaçaõ das carnes (assava umas, ferventava, cozinhava, ou fritava outras) e punha o feijão para "ferventar". Ele armava uma cama de campanha na cozinha ( é verdade!!!), com a desculpa de acompanhar o cozimento daquilo tudo, por toda noite. Sei que era uma cena, e da boa, regada com muita cerveja, família, amigos e curiosos, que também passavam parte da noite ali com ele.  A tal feijoada era o maior sucesso, junto aos comensais convidados, que claro, sabiam de toda essa produção. Era de fato, um acontecimento...

Feijoada é para mim um prato cheio de conflitos É muito típico e explode em sabor e por isto, é apaixonante. Mas é hard!!! Sempre fico com um pé atrás com ele, por suas consequências cotidianas na minha saúde e no meu peso. Nem preciso detalhar isto aqui.

Porém, quando vejo meu sobrinho, vindo da Califórnia querer se fartar com uma feijoada no Brasil; ou o pai do meu neto, buscar em Paris pertences de feijoada para comemorar a chegada dele, vindo de Londres;  penso que este prato é realmente muito emblemático para os brasileiros.

Não vou passar qualquer receita de feijoada aqui. Penso que todos nós sabemos fazer ou usar uma ou outra receita desta delícia. Mas repasso as dicas e os segredos do preparo e da montagem do prato, de acordo com o Pedro Nava, em seu livro Chão de Ferro ( pág 22). Já provei do jeitinho que ele faz. Podem acreditar, ele coloca a nossa feijoada no grande pedestal que ela merece estar. E podem crer, é o melhor jeito de saborear tal delícia...

 "seu grande truque era cozinhar o feijão, sem esmagar um só grão e depois de pronto, dividir em dois lotes. Tomava dois terços e tirava seu caldo, peneirando.Um terço, esse sim, era amassado, passado, livrado das cascas, apurado e esse caldo grosso é que ia novamente ser misturado com os grãos inteiros. Era assim que em sua casa não se via a desonra da feijoada aguada. Toda a carne seca, a fresca,a de fumeiro, eram cozidas no caldo ralo tirado da primeira porção. Só o lombo era sem contato, desobrigado de outro gosto senão o da sua natureza, o da vinha d´alho em que dormira e das rodelas de limão que o guarneciam...Foi ao estro de sua mesa que pus em dia a melhor maneira de degustar a imensa iguaria. Prato fundo, já se vê de sopa. Nele se esmagam quatro a cinco ( mais ou menos) pimentas-malaguetas, verde e maduras, frescas ou danadas no vinagre. Tiram-se-lhes carocinhos e cascas. Deixa-se só a linfa viva que é dissolvida no caldo dum limão. Esse corrosivo é espalhado em toda a extensão do prato. Então, farinha em quantidade para deixar embeber. Retira-se o seu excesso que volta para a farinheira. Sobre a crosta que ficou, vai a primeira camada de feijão e outra de pouca farinha. Edifica-se com superposições de couve, de farinha, de feijão,de farinha, das carnes e gorduras e do respaldo mais espesso,cobertura final de farinha, espera-se um pouc,o para que os líquidos sejam chupados, aspirados, mataborrados e come-se sem misturar...um prato só..."

Não é bárbaro, este respeito do autor por algo tão brasileiro e a sua vontade de valorizar e aproveitar ao máximo disto ??? Confesso que sempre que faço feijoada em casa (ou o cassoulet, que deu origem a mesma) me lembro deste trecho...

Lembro-me também do Chico, com a sua "Feijoada Completa" , apresentada no video a seguir.



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