quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Esta Vida... Os pais

Parece que é muita repetição nos conteúdos da minha escrita. Mas é fato, a minha infância e adolescência, na casa dos meus pais foi vivida em um lar giga festivo. Nossos vizinhos diziam que ali, comemorávamos até aniversário de cachorro e com muita pompa.

Mesmo não tendo conhecido meu avô, estando ele ausente, portanto, de tais comemorações, também o dia dos pais, naquela época, era uma festa só em minha casa, comemorada com todos os familiares e amigos.

Neste dia dos pais de 2011, comemorado no mesmo dia em que seria o aniversário de 91 do meu pai, vou ficar em família, em homenagem e em lembranças dele conosco.



Ainda não me entreguei à produção de tal encontro e, portanto, não tenho qualquer idéia do cardápio. Minha mãe prefere algo sem carnes vermelhas, no que eu concordo totalmente. Sugeri bacalhau. Penso que uma torta de bacalhau, à moda da minha minha mãe ( a melhor de todas as torta, ainda passo aqui tal receita), acompanhada com uma saladinha verde, ou mesmo, acrescentando, uma massa regada à um molho com vegetais, seria bom. Um risoto leve ou um cuscus básico, também seria bom.

Meu pai, além de ótimo cozinheiro (putz, para homenagea-lo a comida vai ter de ser boa), cantor e médico, recitava poemas maravilhosos. Em uma viagem que fez com uma das minhas irmãs, para Diamantina, ao ser convidado para cantar, num bar, no qual se apresentava um excelente grupo de chorinho, ele preferiu recitar um poema, que jamais tinhamos escutado. Ele retirou lá do fundo de sua memória e por inteiro, sem errar e sem titubiar, o "Esta vida"do Guilherme de Almeida, que reproduzo aqui. Ele é extenso, mas cheio de vida. Vale a pena ler e se emocionar.

" ESTA VIDA
Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
 se fôssemos eternos, num transporte
 de desespero inventaria a morte.
 Uma célula orgânica aparece
 no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
 Homem, eis o que somos neste mundo.

 Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
 dentro da própria morte, o encanto de morrer.


Um monge me dizia: ó mocidade,
 és relâmpago ao pé da eternidade!
 Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
 esta vida não vale grande coisa.
 Uma mulher que chora, um berço a um canto;
 o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
 Depois o mundo, a luta que intimida,
quatro círios acesos : eis a vida.

 Isto me disse o monge e eu continuei a ver 
dentro da própria morte, o encanto de morrer.


Um pobre me dizia: para o pobre
 a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre. 
Deus, eu não creio nesta fantasia.
 Deus me deu fome e sede a cada dia 
mas nunca me deu pão, nem me deu água. 
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa 
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.

 Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver, 
dentro da própria morte, o encanto de morrer.


Uma mulher me disse: vem comigo! 
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
 Sonha um lar, uma doce companheira 
que queiras muito e que também te queira.
 No telhado, um penacho de fumaça.
 Cortinas muito brancas na vidraça. 
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!




Pela primeira vez eu comecei a ver,
 dentro da própria vida, o encanto de viver."
Guilherme de Almeida
.

Minha homenagem aos nossos pais, aos pais dos nossos filhos, aos nossos amigos pais, a todos os pais e, claro, à todas as mulheres ( zinhas ou não), que deles são companheiras.

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